Nos últimos anos, temos falado muito sobre desacelerar. Sobre andar descalços na grama novamente. Sobre se reconectar com a natureza. Sobre escolher conexões reais e genuínas com pessoas de verdade, e não apenas interações superficiais por telas ou posts perfeitamente editados.
Temos falado sobre o valor de respeitar o nosso tempo. Tempo para pensar em possíveis soluções. Tempo para nos reencontrar. Tempo para construir uma carreira que esteja alinhada com os nossos valores. Tempo para cuidar das relações que realmente importam.
Entra em cena a IA e a era da gratificação instantânea
E então... IA entra em cena.
De repente, vivemos em um mundo onde você não precisa mais só imaginar uma ilustração, é só escrever um comando e voilà! Está ali. Precisa de um relatório completo? Insira os dados e voilà de novo. Pronto, em segundos. E com esse acesso instantâneo vem um novo tipo de pressão. Uma que sussurra (ou grita): mais rápido, mais rápido, mais rápido. Se a IA consegue fazer em um minuto, por que você está demorando tanto?
Não consigo deixar de me perguntar o que tudo isso está fazendo com a nossa ansiedade coletiva. Com as nossas expectativas. Com a nossa capacidade de simplesmente ser, sem a necessidade constante de fazer mais, ser mais, o tempo todo. Como lidar com essa mudança sem sentir que estou ficando para trás por não estar fazendo mil coisas ao mesmo tempo, a cada instante do dia?
Como vou ensinar às minhas filhas a esperar pelas coisas? A entender que certas coisas levam tempo? Que nem tudo está pronto e disponível na hora, só porque você quer? Porque, embora a IA escreva nossos e-mails, automatize nossas compras, gere ideias, planeje nossa semana e faça tantas coisas incríveis, ela não ensina paciência. Ela não ensina o ritmo da vida. Das estações. Da respiração. Do silêncio. Do crescimento lento e natural.
E não me entenda mal. Eu não sou contra a tecnologia. Uso ferramentas de IA. Conto com elas. Adoro o fato de me ajudarem a economizar horas de tarefas administrativas, para que eu possa focar no lado humano do que faço. Mas ainda assim, me pergunto: será que estamos nos desconectando do ritmo natural da vida? Da verdade silenciosa de que algumas coisas precisam de tempo? Que nem tudo precisa ser instantâneo? Será que estamos trocando a beleza do processo em nos descobrir por essa pressa de concluir?
Já está difícil o bastante com os sons e alertas de centenas de aplicativos disputando a nossa atenção. Notificações que prometem facilidade, produtividade, tudo melhor. Mas como é que a gente desacelera de verdade? Como nos reconectamos com a natureza, não só com a que vemos pela janela, mas com a nossa própria natureza humana?
Como criamos espaço para conexões humanas reais, quando a tecnologia parece nos empurrar na direção contrária?

Em busca do equilíbrio em um mundo acelerado
Às vezes, eu romantizo a ideia de me mudar para o meio do nada. Viver da terra. Sem aplicativos. Sem Wi-Fi. Só o tempo, o espaço e aquilo que conseguimos criar com as próprias mãos. Mas, por outro lado, isso também significaria se desconectar de todas as outras pessoas? E, se for assim, será que isso realmente traria o que mais desejamos, conexão?
Talvez a resposta esteja em algum lugar no meio do caminho. Talvez não se trate de abandonar completamente o mundo digital, mas de escolher como queremos transitar por ele. Porque, sejamos honestos, a IA veio para ficar, e a tecnologia só vai continuar avançando. A questão é: como queremos viver ao lado disso tudo?
Pausar, refletir, escutar.
Por agora, escolho abrir espaço para conexões reais com minha família e meus amigos. Estar presente, aproveitando momentos simples no jardim com minhas filhas, caminhando na natureza com amigas, e reservando um tempo para um café e uma conversa sincera com quem eu amo. E, acima de tudo, lembrando que a vida, a vida de verdade, nunca foi feita para ser instantânea.
Por que não conferir o Desafio de Desintoxicação Digital?Uma forma de reduzir o tempo de tela e retomar o controle do seu tempo. Se você é mãe ou pai, talvez também queira ler o post Por que minha filha vai esperar um pouco mais para ter um celular.