Você já se sentiu dividida entre a mãe que gostaria de ser e a mulher que costumava ser?
Neste mês, no Outros Olhares/Outras Vozes, tenho a honra de receber Belinda Jane Batt MSc, coach, pesquisadora e autora do livro Challenge Your Guilt: How to Flourish in Motherhood, Work and Life.Belinda tem como missão ajudar mães a se libertarem da culpa, se reconectarem consigo mesmas e voltarem a florescer.
Dos mitos da “mãe perfeita” à vergonha silenciosa que tantas de nós carregamos, vamos mergulhar no que realmente é a culpa materna, por que ela aparece e como podemos começar a desafiá-la. Porque a maternidade não deveria vir acompanhada de autocrítica. E florescer não é um sonho distante, é algo que todas nós merecemos.
O que é a culpa materna e por que ela importa para a saúde emocional
Vamos começar pelo básico: o que exatamente é a culpa materna, e como ela se diferencia de simplesmente se sentir mal ou insegura como mãe? Qual é o papel da sociedade na formação desses sentimentos?
A culpa materna é aquela sensação persistente, pesada e muitas vezes silenciosa de que nunca estamos fazendo o suficiente ou de que estamos fazendo tudo errado. É diferente das preocupações comuns da maternidade ou de um arrependimento passageiro. Vai mais fundo, dura mais. É aquela voz sutil que questiona se somos uma mãe “boa o bastante”, que sussurra “você falhou” quando fazemos algo tão cotidiano quanto deixar o filho na creche para ir trabalhar ou servir nuggets de peixe no jantar duas noites seguidas.
O que torna a culpa materna tão presente e tão importante de compreender é que ela não surge do nada. Ela é moldada, incentivada e sustentada pela sociedade em que vivemos.
No meu livro, descrevo as mães modernas como estando no “olho do furacão da culpa”. Nunca antes tantas mulheres ocuparam, ao mesmo tempo, os papéis de mães e profissionais ativas no mercado de trabalho, e ainda assim os sistemas ao nosso redor não evoluíram para acompanhar essa mudança. As expectativas sociais continuam enraizadas em ideais ultrapassados: de que uma “boa mãe” deve estar sempre presente, ser abnegada e tranquila. E, ao mesmo tempo, ela também deve contribuir financeiramente, manter a saúde física, o equilíbrio emocional, a competência profissional, tudo isso enquanto administra a casa.
Não é de se admirar que estejamos emocionalmente exaustas.
O sentimento de culpa materna importa porque drena nossa energia, enfraquece nossa autoconfiança e nos impede de florescer. Ele se torna uma lente através da qual passamos a enxergar cada decisão. E, por ser frequentemente internalizado, muitas de nós nem percebemos o quanto está moldando a forma como nos posicionamos na vida.
Quando começamos a reconhecer que grande parte desse sentimento de culpa é condicionado, e não uma escolha consciente, podemos iniciar o trabalho essencial de questioná-lo. É aí que começa o nosso processo de cura e florescimento.


Quais são os efeitos da culpa materna no dia a dia?
Ouvimos tanto sobre a culpa materna, mas qual é o impacto dela no nosso bem-estar, na nossa identidade e na forma como exercemos a maternidade no dia a dia?
No meu trabalho como coach e na pesquisa para o livro Challenge Your Guilt, vi de perto o quanto a culpa afeta profundamente as mães. O mais doloroso é que quase nunca falamos sobre isso — não de forma honesta, nem com profundidade. Muitas mulheres acham que o problema está apenas nelas. Mas não está.
A culpa aparece nas decisões que tomamos ou deixamos de tomar. Já vi mães abrirem mão da carreira, da saúde, das amizades e da própria alegria por se sentirem consumidas pela culpa de deixar o filho com outra pessoa, dizer não a uma atividade extracurricular ou simplesmente precisar de um tempo para si mesmas.
No dia a dia, a culpa pode gerar uma sensação constante de inadequação. Muitas vezes, nos sentimos divididas entre trabalho e casa, entre nós mesmas e a família, e acreditamos que estamos falhando em ambos os lados. Essa crença vai minando nossa autoconfiança e nossa identidade. Muitas das mães com quem trabalho me dizem que já não se reconhecem. Sentem-se como sombras das mulheres vibrantes e cheias de propósito que um dia foram.
A culpa também influencia a forma como exercemos a maternidade. Quando agimos a partir da culpa, muitas vezes reagimos em vez de agir com intenção. Podemos tentar compensar em excesso, ceder quando o que seria necessário são limites, ou até nos afastar emocionalmente por nos sentirmos esgotadas e inseguras quanto ao nosso próprio valor. Nosso sistema nervoso fica em estado de alerta constante, tentando atender a padrões impossíveis enquanto ignoramos as nossas próprias necessidades.
O custo disso a longo prazo é o esgotamento, o ressentimento e o distanciamento dos nossos filhos, dos nossos parceiros e, talvez de forma ainda mais dolorosa, de nós mesmas.
Desafiar a culpa não tem nada a ver com ser perfeita. Trata-se de resgatar nossa essência e aprender a nos conduzir com compaixão, para que possamos guiar nossas famílias com amor, e não com autocrítica.
O que podemos fazer para superar a culpa materna?
No teu livro Challenge Your Guilt, você apresenta uma série de ferramentas práticas para ajudar mães a lidar com a culpa e começar a florescer. Você poderia compartilhar um pouco dessas estratégias com a gente? Talvez alguns primeiros passos que as mães podem dar para começar a se libertar do peso da culpa.
- Consciência: O primeiro e mais poderoso passo é consciência. Não dá para desafiar a culpa sem reconhecer de onde ela vem. Costumo incentivar as mães a fazerem uma pausa e se perguntarem: De quem é essa voz que está falando através da culpa? É minha ou é da sociedade?
No livro, eu diferencio a culpa construtiva da culpa destrutiva. A culpa construtiva está alinhada com os nossos valores — como quando sentimos um incômodo por termos perdido a paciência com nosso filho e queremos reparar isso. Ela nos leva à reflexão e ao crescimento. Já a culpa destrutiva vem de expectativas e pressões externas: o mito da “mãe perfeita”, as comparações no Instagram ou crenças culturais enraizadas sobre o que uma “boa mãe” deveria fazer. Esse tipo de culpa? Precisa ser desafiada, e não acolhida.
- Valores Essenciais: Também convido as mães a identificarem quais são os seus valores essenciais, porque a culpa muitas vezes surge quando há um descompasso entre o que mais importa para nós e a forma como estamos vivendo no dia a dia. Quando temos clareza sobre os nossos valores, conseguimos tomar decisões com mais confiança e menos autocrítica.
- Reformular o Pensamento: Outra ferramenta importante é a mudança de pensamento. Quando a culpa surgir, experimente anotar o que está sentindo e, em seguida, reformular esse pensamento com autocompaixão.
Pensamento carregado de culpa: “Sou uma mãe ruim por deixar meu filho na creche.”
Reformular o pensamento: “Meu filho está aprendendo a socializar, e eu estou trabalhando para sustentar nossa família. Isso é amor em ação.”
- Conexão: Por fim, precisamos de conexão. A culpa ganha força na solidão, mas enfraquece quando é compartilhada com outras pessoas. Seja conversando com uma coach, uma psicóloga, uma amiga de confiança ou lendo relatos de outras mães, dar nome à culpa e falar sobre ela em voz alta ajuda a tirar seu poder. Você não é a única a se sentir assim, e não precisa carregar isso sozinha.

E você, Belinda? Tem alguma estratégia favorita ou prática que costuma usar quando a culpa materna aparece na sua própria vida? O que te ajuda a se reconectar consigo mesma e manter os pés no chão?
Ah, eu sinto culpa o tempo todo! Uma das histórias que compartilho no livro é sobre o fim da minha jornada de amamentação com meu filho. Um pediatra (homem) me orientou a introduzir fórmula à noite para ajudar no sono do meu filho. Eu segui a recomendação, e funcionou. Mas, em poucas semanas, minha produção de leite diminuiu e a amamentação terminou antes de eu estar pronta. Me vi sentada no chão do nosso apartamento, chorando muito, completamente tomada pela culpa. Senti que havia falhado com o meu bebê, mesmo tendo seguido uma orientação médica. Esse momento ficou comigo por anos.
Hoje, quando a culpa aparece, eu recorro a uma prática simples: Pausar, refletir, reformular o pensamento..
- Eu me pergunto: Essa é uma culpa construtiva ou uma resposta condicionada?
- O que eu diria a uma amiga se ela estivesse passando por isso?
Enxergar a mim mesma com compaixão tem um poder transformador. Outra prática à qual sempre retorno é me conectar com a natureza. Isso me traz equilíbrio. Uma caminhada à beira do rio, perto da minha casa na bela região de Devon, me ajuda a respirar mais profundamente e a me reconectar comigo mesma.
Também escrevo, no final de cada dia, três coisas pelas quais sou grata em um caderno. Ele está cheio de pequenos momentos, como minha filha dizendo que sou a melhor amiga dela ou meu filho me dando um abraço espontâneo. Quando a culpa começa a aparecer, releio essas anotações e elas me ajudam a lembrar que estou indo bem.
O que está no horizonte?
Do seu ponto de vista, como você vê o futuro da forma como entendemos e falamos sobre a culpa materna? Estamos caminhando na direção certa? E o que ainda precisa mudar?
Acredito que estamos vivendo um momento decisivo. Cada vez mais mães estão percebendo que a culpa que sentem não é uma falha pessoal, é algo sistêmico. É cultural. E já passou da hora de pararmos de aceitar isso como algo normal.
Fico animada com as conversas que tenho visto acontecer em ambientes de trabalho, em grupos de WhatsApp, em podcasts e em painéis de discussão. As pessoas estão discutindo a carga invisível, o impacto mental da maternidade e paternidade modernas e as estruturas ultrapassadas que já não atendem às necessidades das famílias. E já começamos a ver os efeitos disso — reivindicações por licenças parentais mais justas para mulheres e homens, modelos de trabalho flexíveis, acesso a creches e definições mais inclusivas do que significa ser mãe.
No entanto, ainda há muito a ser feito. Precisamos ir além das frases de efeito no Instagram e das hashtags, e começar a abordar as estruturas que perpetuam a culpa, da área da saúde à educação e às políticas de trabalho. Também precisamos garantir que os pais façam parte dessa conversa, para que o cuidado com os filhos não continue sendo visto como uma responsabilidade exclusiva das mães.
No fim das contas, o que eu espero é que possamos construir uma cultura em que as mães se sintam fortalecidas, e não julgadas. Em que o florescimento seja o objetivo, e não o martírio. E em que a culpa deixe de ser a emoção padrão da maternidade para se tornar a exceção.
Merecemos nada menos do que isso.
Nota final:
O trabalho de Belinda é especialmente relevante no mundo de hoje. Muitas mulheres estão conciliando carreiras, criando filhos, cuidando da casa e tentando atender a expectativas que muitas vezes parecem impossíveis. Em algum momento dessa jornada, assumimos tantos papéis que fica difícil saber onde um termina e o outro começa. E, quando tudo parece demais, a culpa encontra uma brecha para aparecer.
Mas, como Belinda nos lembra, não precisamos carregar tudo, e muito menos carregar sozinhas. Existem formas mais gentis de seguir nessa jornada. Challenge Your Guilt: How to Flourish in Motherhood, Work and Life. oferece exatamente isso. Se você quiser explorar as ferramentas, estratégias e reflexões que ela compartilha, o livro já está disponível para compra. É uma leitura libertadora para qualquer mãe que esteja pronta para deixar a culpa para trás e se reconectar consigo mesma.
Para uma perspectiva mais pessoal, leia também meu relato: As muitas faces da culpa materna.

Sobre a autora: Belinda Jane Batt, MSc
Belinda é fundadora da The Flourishing Mother, coach credenciada pela EMCC e autora do recém-lançado livro Challenge Your Guilt: How to Flourish in Motherhood, Work and Life.Com um mestrado em Psicologia Positiva Aplicada e Psicologia do Coaching, Belinda combina estratégias baseadas em evidências com uma profunda compaixão para apoiar mães em todas as fases da vida. Ela também é praticante certificada em Estudos da Maternidade. Por meio de seu trabalho como coach, treinadora e agora autora em sua estreia literária, Belinda está ajudando mulheres a irem além da culpa e a construírem uma vida mais equilibrada e plena, em casa e no trabalho. Acesse The Flourishing Mother para saber mais.
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