Retornar ao trabalho após uma pausa na carreira é uma jornada repleta de incertezas. Muitas mulheres se sentem perdidas, sem saber por onde começar ou como sua experiência se encaixa no mercado de trabalho atual. A autoconfiança balança. Será que minha experiência ainda conta? Os empregadores reconhecerão o que posso oferecer? E, com a pressão adicional de equilibrar vida profissional e pessoal, o caminho de volta ao emprego pode parecer esmagador.
Um dos maiores obstáculos para reingressar no mercado de trabalho é o desafio de conciliar trabalho e filhos. O custo, por si só, pode tornar a decisão de trabalhar pouco viável, especialmente quando o salário mal cobre as mensalidades da creche ou do after-school club. Embora um número crescente de homens esteja assumindo responsabilidades no cuidado com os filhos, essa tarefa ainda recai, em grande parte, sobre as mulheres.
No Reino Unido, as políticas de trabalho flexível passaram por mudanças importantes, especialmente com a implementação da Lei de Relações Trabalhistas (Trabalho Flexível), que entrou em vigor em 6 de abril de 2024. Apesar desses avanços legislativos, alguns empregadores ainda resistem à flexibilização, dificultando que mães consigam conciliar carreira e vida familiar. A pressão pós-pandemia pelo retorno aos escritórios só agravou esses desafios, deixando muitas mulheres em desvantagem.
Oportunidades para retomar a carreira com confiança e propósito
Felizmente, há cada vez mais iniciativas voltadas a apoiar mulheres no processo de reintegração ao mercado de trabalho:
- Programas para Retorno Profissional: Esses programas estruturados, geralmente promovidos por grandes organizações, oferecem mentoria, treinamentos e experiências de trabalho temporárias para facilitar o retorno das mulheres a funções profissionais.
- Cursos de Atualização e Requalificação: Diversas plataformas online e iniciativas governamentais oferecem treinamentos gratuitos ou acessíveis em qualificações digitais, liderança e outras áreas-chave, ajudando a reduzir defasagens na experiência profissional.
- Grupos de Apoio Profissional e Redes de Networking: Conectar-se com organizações como Women Returners, grupos de mentoria profissional ou comunidades no LinkedIn pode oferecer orientações valiosas e oportunidades de emprego.
- Empreendedorismo: Algumas mulheres descobrem que abrir um negócio próprio ou atuar como freelancer pode ser uma alternativa viável, e mais flexível, em relação ao emprego tradicional.
As barreiras mais comuns no retorno profissional para as mulheres
Embora existam oportunidades, barreiras significativas ainda impedem muitas mulheres de reingressar com sucesso no mercado de trabalho:
- Interrupções na Trajetória Profissional: Uma pausa na carreira pode fazer com que algumas mulheres sintam que “ficaram para trás”. No entanto, destacar as qualificações transferíveis desenvolvidas nesse período, como por exemplo organização, resolução de problemas e gestão do tempo, pode fortalecer a autoconfiança e demonstrar aos empregadores o valor que elas continuam a oferecer.
- Direção Profissional Incerta: Muitas mulheres que retornam ao trabalho sentem insegurança sobre qual caminho profissional seguir ou como suas qualificações se aplicam a novas funções. A orientação de carreira, avaliações online e oficinas profissionais podem ajudar a identificar novas oportunidades e redefinir objetivos.
- Custo e Disponibilidade de Creches: Devido aos altos custos com creches e serviços pós-escolares, muitas mulheres optam por empregos de meio período ou com horários mais flexíveis. Buscar empregadores que realmente apoiem a vida familiar, defender políticas mais justas e explorar alternativas de apoio pode fazer a diferença nesse retorno.
- Falta de Flexibilidade: Embora muitas empresas afirmem ter políticas de apoio à família, práticas rígidas ainda são comuns. Pesquisar a cultura da organização, questionar sobre flexibilidade durante entrevistas e conversar com profissionais que já atuam na empresa pode oferecer uma visão mais clara sobre o quanto ela, de fato, apoia mulheres com filhos.
Trabalho flexível: Como funciona no Reino Unido
Para muitas mães que estão retornando ao mercado de trabalho, a flexibilidade não é negociável. Pela legislação britânica, todo empregado tem o direito de solicitar um modelo de trabalho flexível a partir do primeiro dia de contrato. Os tipos de flexibilidade que podem ser solicitados incluem:
- Jornada de meio período
- Compartilhamento de cargo (job sharing)
- Trabalho remoto ou modelo híbrido
- Carga horária integral distribuída em menos dias
- Flexibilidade de horário (escolha dos horários de início e término dentro de certos limites)
- Trabalho em período letivo (atuar apenas durante o ano escolar, com folgas nas férias)
- Horas anualizadas (a carga horária é distribuída ao longo do ano, em vez de seguir uma rotina semanal fixa
Para fazer uma solicitação eficaz:
- Envie um Pedido Formal por Escrito – Especifique claramente o tipo de flexibilidade desejada e como isso pode beneficiar tanto você quanto a empresa.
- Apresente uma Proposta Fundamentada – Embora não seja obrigatório, demonstrar como o trabalho flexível pode melhorar sua produtividade, bem-estar e permanência na empresa pode fortalecer seu pedido.
- Esteja Aberta à Negociação – O empregador pode sugerir ajustes, por isso é importante estar disposta a dialogar.
- Conheça Seus Direitos – O empregador deve avaliar o pedido de forma justa e só pode recusá-lo com base em razões comerciais legítimas.
Seus direitos trabalhistas no Reino Unido
Compreender seus direitos trabalhistas é essencial para garantir um retorno ao trabalho com apoio:
- The Equality Act 2010Protege contra discriminação com base em gênero, idade, responsabilidades parentais (e outras características), garantindo igualdade de oportunidades em processos seletivos, salários e promoções.
- Employment Relations (Flexible Working) Act 2023: Garante o direito de solicitar modelos de trabalho flexíveis desde o primeiro dia de contrato.
- Licença Parental:As licenças maternidade, paternidade e parental compartilhada, previstas em lei, oferecem apoio financeiro e tempo de afastamento para cuidar de um filho.
- Ausência por Motivos de Emergência: Empregados têm o direito de tirar folgas não remuneradas para lidar com emergências relacionadas aos filhos.
Reflexão final: Fortalecendo mulheres no retorno ao trabalho
Voltar ao mercado de trabalho após uma pausa na carreira é uma transição significativa mas, com o apoio, o conhecimento e os recursos certos, pode ser também uma experiência transformadora e gratificante. Seja buscando um programa de retorno, defendendo o trabalho flexível ou explorando novas direções profissionais, conhecer seus direitos e opções é um passo fundamental para se sentir empoderada nessa jornada.
Embora as políticas no papel indiquem avanços em direção a ambientes de trabalho mais inclusivos, a realidade nem sempre acompanha esse discurso. Está na hora de as empresas irem além de gestos simbólicos e oferecerem apoio genuíno a todos os seus colaboradores. Até lá, é essencial que continuemos pressionando por mudanças: questionando normas ultrapassadas, exigindo flexibilidade real e ajudando a transformar o mundo do trabalho para as próximas gerações.
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Sobre a Autora: Marielza Bradshaw
Marielza Bradshaw é uma profissional experiente da área de Recursos Humanos, com atuação nas áreas de relações trabalhistas, coaching de liderança e transformação organizacional. No artigo “Mulheres de Volta ao Trabalho”, ela compartilha reflexões valiosas para apoiar mulheres que estão retomando sua trajetória no mercado de trabalho no Reino Unido.
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